amores expresos

sábado, 16 de fevereiro de 2008

EU TENHO UMA CAMISETA ESCRITA EU TE AMO

Quando tinha quinze anos, eu usei até gastar uma camiseta estampada com a frase "viva rápido, morra jovem". Dia desses, meu sobrinho de sete anos me disse: "Tio Paulo, escritor é quem tem um cinema na cabeça, não é?". Numa quinta de madrugada, lá em Sydney, aí pelas duas, perdi o sono e liguei a televisão, estava passando o documentario "Bukowski: Born Into This", peguei bem na parte em que o velho Charles Bukowski estava chutando de verdade a Linda Lee no sofá da sua mansão (cena patética) só porque ela disse que ele estava sempre colocando a culpa nos outros (ou coisa assim). Num domingo chuvoso, dois caras se matavam a socos na esquina da Liverpool com a Elizabeth Street; dentro do ônibus, a menina asiática sentada à minha frente filmava tudo com o seu celular, enquanto o namorado pedia para ela parar. Por um dia, perdi o Valantine’s Day australiano, peguei aqui, na Nova Zelândia: restaurantes lotados e o tradicional desespero de encontrar. Tenho certeza: quando se ama, amor de verdade, o negócio dura para sempre, mesmo que você nunca mais consiga conviver com a pessoa ou sequer vê-la, encontrá-la (pouco importando quem terminou).

Minha idéia é escrever sobre o companheirismo: isso de segurar a pior barra, a pior rebentação, mesmo que haja tão pouco de história e tempo entre os dois; ficar ao lado porque é escolha.

Tenho um monte de anotações, fotos de lugares, recibos (sei que é nerd total, mas é incrível quanta coisa vem com apenas uma passada de olhos nos recibos), recortes de jornais, folders. Aqui, na Nova Zelândia, em meio a pessoas absurdamente queridas e atenciosas, não está sendo fácil parar para escrever; separei estas duas horas do sábado para agradecer a todos que mandaram e-mails ou fizeram comentários e aos amigos Mariana Ianni, Isabel Gomes, Rafael Salomão, Milena Nascimento e Thais Fuji que me deram todo o apoio logístico.

Pronto, agora é materializar o treinamento de cupido, fazer o casal se conhecer, sofrer um pouco e depois sofrer mais um pouco, antes do final que exigirá o impossível dos dois.

Um dia antes de embarcar para Sydney, tive a sorte de almoçar com o Fabrício Carpinejar e o Amílcar Bettega, digo que tive sorte porque da conversa com esses rapazes de talento me veio a interrogação fundamental para a história.

Há um revolto e imensurável meio do caminho. No geral, olhando ao redor, posso dizer que este é um momento difícil: ainda é necessário provar que se sabe escrever de verdade. Tenho sorte de já ter passado há tempo dos trinta (não é essa a referência etária usada para detectar, de bate-pronto, a genialidade literária?) e não arredar um centímetro do jeito que me agrada, que me parece o mais autêntico. Só os afoitos não vêem que, sobre as cabeças desta geração, persistirão dúvidas ainda por muito tempo.

(a partir de agora começo a postar no blog ithaca road)

Até.


(Prédio onde morará a protagonista, na Ithaca Rd)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

TERMINOU



(Foto tirada, ontem, na Ithaca Road)

Daqui a poucas horas, embarco para a Nova Zelândia, onde passarei um número de dias. Infelizmente, como planejado, não farei agora o resumo da estada... mas, tenham certeza, acontecerá logo.

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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

FOTO

domingo, 10 de fevereiro de 2008

ESCURINHO ACEITÁVEL

Desde o "Histórias curtas para domesticar as paixões dos anjos e atenuar o sofrimento dos monstros" (Porto Alegre: Editora Sulina, 2001) que eu toco no problema racial - que no Brasil é ainda mais bizarro já que todo mundo é mestiço.

Aqui, um tema especialmente fascinante são os direitos civis dos aborígenes: a história recente da luta pelo reconhecimento cultural como identidade australiana e a retomada do seu espaço com o devido reflexo economico; a exemplo do que aconteceu no Canadá, onde a crueldade com os índios foi intensa até e durante a primeira metade do século XX - na real, nada diferente dos outros lugares.

A decisão sobre o pedido de desculpa do governo branco à "geraçao perdida" está dando o que falar. Vale a pena conhecer a riqueza do processo.

No Brasil... Bem, isso fica pra depois.

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PARA A TURISTADA VER

CHOVENDO NO MOLHADO

O caderno Review do Weekend Australian traz matéria interessante sobre um problema bastante atual: há muito mais escritores do que leitores.

O detalhe do texto, que é da Rosemary Neill, está no enfoque direcionado aos estudantes dos cursos de creative writing. Resumo, os caras não lêem.

Na chamada está dito: quando todo mundo é escritor.

Lá em Porto Alegre, tem esta brincadeira: hoje em dia, todo mundo é cineasta. Ano passado, o Fabio Zimbres me largou esta: hoje, todo mundo já foi esqueitista quando era mais novo.

Pra fechar: lá pelas tantas, a materia enfatiza que o único livro que os estudantes querem ler é o seu proprio.

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EXPRESSOS

sábado, 9 de fevereiro de 2008

SKATE PUNK

Lugar legal pros dias de chuva é a Galeria de Arte Estadual (a Art Gallery of New South Wales), é de graça. Monte de artistas contemporâneos. Café a preco honesto (quer dizer...).

Lá estão acontecendo duas exposições que partem das tábuas do skate e do surfe.

Sempre fiquei imaginando por que não rolava uma exposição exclusivamente com os trabalhos (desenhos) que os caras fazem nas pranchas.

Tempo atrás a Revista Piauí chegou a me encomendar um texto literário sobre a cultura do skate; pena que acabou não rolando, cheguei a rascunhar umas três laudas.

O artista do skate, o Felix Palmer, faz trabalho com tábuas usadas (fica a mistura dos desenhos com os ralados na madeira). O resultado é de primeira.

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SK8 (DE FELIX PALMER)

SURF. (DE SCOTT REDFORD)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

FANTASMA

Imagino que seja possível separar os autores que participam deste projeto em dois grupos: de um lado, os que migram com seus companheiros ou, de alguma forma, acabam encontrando e se relacionando com amigos brasileiros que vivem no local; e, doutro, os que viajam sozinhos e evitam seus nacionais ou conhecidos em geral. Como deu pra notar, faço parte do segundo grupo.

Minha intenção foi a de mergulhar de cabeça na piscina vazia (pra usar um clichê literário), de me relacionar com Sydney no extremo da passividade (da contemplação), dentro das limitacoes cognitivas de quem nunca a visitou, de quem (até sem querer) acabou despido das garantias da sua rotina brasileira, da ego trip, sem o cirquinho-muleta, sem as facilidades "de redor" que cada um de nós sempre acaba montando (é uma solução natural de defesa, tudo bem).

Na maioria das horas, vago feito um fantasma, em silêncio, observando (e sujeito às conexoes mais absurdas): longas viagens de ônibus até os bairros (condados) distantes, como Parramatta, diálogos utilitários e sem oferecimentos, almoços solitários na mesa pra dois do restaurante, caminhadas malemolentes em meio ao turbilhão de executivos nas ruas centrais, a estagnação em meio ao número absurdo de universitários brasileiros gastando sua juventude em aulas de inglês de aproveitamento questionável e trabalhando feito burros de carga (aviso aos irritadinhos que não vejo nada de errado em gastar a juventude, ela gastará de qualquer jeito; e não há mesmo o que altere essa rota).

Na poesia é comum partir de um sentimento, de um momento em que se corporifica uma imagem, uma exultância - em que algo se precipita como a cura que o Céline sugere nos seus livros. Não acho que isso funcione num projeto como o Amores Expressos (não há como progredir apenas na, e de, inspiração quando o alvo deverá ao romanesco).

Estranho ao máximo esta experiência de blog no formato tradicional.

Não sei falar da minha vida, não gosto de expor a minha vida (o Sanduíche de Anzóis, o blog do Elrodris, funciona como o meio mais eficiente para eu tirar onda com a inquebrável redoma das literatices, serve também pra divulgar as coisas notáveis em geral e chutar alguma poesia). Neste momento, tenho até uma certa inveja de quem consegue fazer isso com graça e sem pudor.

O amigo Eduardo Nasi me disse uma vez: se tu escrevesse sobre essa tua rotina agitada e esquizofrênica daria um baita caldo.

Pois é.

Hoje, acordei as oito.

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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

INFLÁVEL & INFLAMÁVEL

Ao lado de um cara chamado Peter Minter (Empty Texas. Sydney: Paper Bark Press, 2000), Angela Gardner (Parts of speech. Brisbane: University of Queensland Press, 2007) é o que há de melhor na nova poesia autraliana.

Segue uma tradução de um dos vários poemas arrasa-quarteirão da moça; chama Inflato-doll:

INFLATO-DOLL

Momento antes do impacto

sua mão esquerda desencorpada

tomba insanamente alegre
numa distopia estática

26 horas em Tóquio

tempo suficiente para se perguntar
quão fragéis

são teus ossos - o ar

inocente nos dezessete
ângulos de câmera

nível cinco de um replay gratuito

um sentimento intermediário de desastre

No radar, a ausência
se gasta como pedra, como pele

louça, cama
rótulos de princípios nada claros

(os quartos do hotel retêm a promiscuidade)

Duplicado sob algo animador

e ilícito
como espiar a intimidade alheia

sabendo que isso
é a repetição que nos possibilita esquecer

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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

AQUI

Chove muito desde sexta-feira (e hoje, mais do que os outros dias). Não comprei um guarda-chuva e, à conta disso, já fiquei completamente ensopado algumas vezes (complicado é quando tu entra no ônibus com o ar-condicionado ligado no máximo).

No sábado a tardinha, a chuva parou e as pessoas puderam ir até um parque chamado Domain para asistir de graça à opera La Boheme do Puccini. Parece qua havia mais de quarenta mil pessoas.

Fiquei de pé atrás do povo (eles sentam em grupos num esquema pic-nic), quieto, apreciando o dramalhão. No final, quase no final, uma senhora idosa parou perto de mim (acho que estava indo embora) e quando a ópera acabou ela perguntou se eu não me importava de segurar sua mão por um instante, eu segurei (senti a leveza de seus dedos, das articulações deformadas pela artrose), e, durante os aplausos, ela chorou.

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AINDA ORANGOTANGOS

Parece que ficou pronto o trailer oficial do filme do Gustavo Spolidoro. Talvez a coisa que mais me divirta nesse plano-sequência seja o Paulo Scott animalizado (ou "orangotangozado") interpretado, numa das tantas passagens bizarras, pelo ator Heinz Limaverde.

Confira aqui.

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quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

BACHARACH

Acabo de sair do show do Burt Bacharach, foi no Concert Hall do Opera House.

Baita profissional.

Na adolescência, aprendi mais sobre o que poderia ser a dureza do amor escutando as melodias desse cara do que lendo muito livro ou assistindo a muito filme em variações sobre o tema.

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RESPONDO

Sim, vale a pena clicar nas fotos e vê-las ampliadas.

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OCIDENTE

FOTO

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

NA TÁBUA

SANTOS COFFE E O QUE PASSA EM RÁPIDO

Uma época especial da minha infância foi aquela em que eu, meu irmão e mais seis primos passamos com nossos avós maternos na praia de Cidreira, litoral do Rio Grande do Sul. Para o café da manhã, meu avô preparava ovos fritos na banha com salsichas. Aquele café reforçado era o máximo.

Tenho mantido uma rotina de cafés da manhã reforçados num lugar chamado Santos Coffe. Os caras (turcos) já se ligaram que sou escritor e, como fazem com a maioria dos clientes, a cada vez que vou lá tentam adivinhar meu pedido (na maioria das vezes, acertam).

Não tenho horário pra chegar, já apareci as sete da manhã, já apareci ao meio dia (detalhe: eles servem breakfast o dia todo).

Entretenho-me com a variação de público (do turista ao operário). A disputa pelos jornais do dia é polida, mas acirrada, por isso, passei a comprar meu exemplar do Australian na lojinha do lado antes de encher a barriga - a leitura do jornal é a coisa mais tangível do dia (nem quando estou aqui no Everywhere Internet digitando em português sem acentos me sinto tão centrado).

Vou aos pubs, mas quase não bebo, peço um suco, água, sento perto das vidraças, fico olhando a rua, o anoitecer, aproveitando a trilha sonora (um bar tem que ter boa música), pescando uns trechos das revistas gratuitas. Nas eventuais conversas, digo que sou escritor brasileiro e algumas portas se abrem - escrever, ter livro publicado parece coisa de outro mundo para algumas pessoas; como se sabe, não é.

Bom, no geral da missão, a história é quase outra na minha cabeça (a cidade deixou de ser uma falácia).

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

NEWTOWN

LADO A, LADO B

E claro, na sexta-feira, acabei no melting pot local, Newtown (Enmore), o bairro onde ficam os negros, os indianos, os punks, a rebeldia universitária, as lojas de metal e os velhacos viciados em corridas de cavalo. No Queens Hotel (os pubs aqui têm esse nome), bebi um quase pint de XXXX Gold em homenagem à casa.

Na área, fica também a melhor livraria da cidade: a Better Read Than Dead.

Em tempo: além do Australian (especialmente o Weekend Australian - depois falarei da matéria "Ian McEwan's golden age", que saiu no suplemento Magazine sugerindo o tema - sempre um tema atual - do próximo romance) tem o jornal Sydney Morning Herald, que não é nada mau.

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sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

HOJE, 5:56 AM

NESTE INSTANTE: DUAS SEMANAS


(Imagem do primeiro dia: exausto, mas animado)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

BONDI ROAD 212, AP 515

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

RAGE AGAINST THE MACHINE

Fiquei vinte minutos na frente da bilheteria do Sydney Entertainment Centre, olhando a multidão e pensando se valia a pena pagar mais de cem dólares para assistir ao show do RATM quase atrás do palco (somente os piores lugares sobraram) e talvez contente com uma nesga de telão. Fiquei indeciso porque sou fã de carteirinha desde aquele primeiro cd independente (isso foi em 1991). Achei melhor não.

Na sexta, eles tocam no Big Day Out, mas não tenho grandes esperanças.

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EU TROCARIA O CHAPLIN PELO MOEBIUS

O Sergio Mello fez este poema que me parece oportuno.

MARVIN

nos olhos cimentados
do manobrista
Chaplin acenou pra mim

leve odor de gelol
que têm os anjos dos outros

sono agitado
das mechas de um maestro

que estranha a cidade
vagando no banco traseiro
do seu próprio carro

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CANDY

Ontem, descobri uma livraria pequena com uma secção de poesia bem mirrada. Nada especial (a busca continua).

Acabei comprando uns livros de prosa que estavam em promoção. Um deles foi o Candy, do australiano Luke Davies (ano passado, falei que esse cara tinha de ser convidado pra FLIP, junto com o João Gilberto Noll e a Márcia Denser); o cara além de prosador é poeta premiado.

Há pouco fiquei sabendo que o ator que fez o protagonista do filme inspirado no livro, o Heath Ledger (o rapaz também fez o coringa neste novo filme do Batman - ontem eu vi o trailer - e um dos vaqueiros do Brokeback Mountain), passou desta para melhor.

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CAPITALISMO

O mercado financeiro por aqui tá pegando fogo (no mau sentido), o dia ontem foi chamado black tuesday. Alguns investidores poderosos nunca perderam tanto dinheiro; claro, isso refletirá nos pequenos - famílias perderão suas casas.

Cassino.

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terça-feira, 22 de janeiro de 2008

SYDNEY PRIMEIRA SEMANA

Na verdade, fecharam-se dez dias de residência.

A cidade é uma Londres com sol (ou, como forçam alguns, um Brasil que deu certo). Será difícil arquitetar uma história de atmosfera demasiadamente sombria ou melancólica - claro, sempre há a tentação do contraste -, as pessoas acordam cedo (cedo aqui é algo por volta das cinco e meia da manhã) para fazer seu esporte, inclusive os cafés abrem nesse horário. No mar, já é possível contar algumas poucas dezenas de surfistas, alguns com mais de sessenta anos.

O cenário inspira a facilidade narrativa e o puro contemporâneo, o contemporâneo pelo contemporâneo; especialmente porque Sydney é uma cidade tipicamente ocidental. Um levantamento rápido poderia facilmente ser complementado depois pelo corriqueiro cultural do Brasil (ou de Porto Alegre, onde as famílias mandam seus filhotes para estudar e se divertir nestas plagas).

O dia tem me oferecido mais diversidade e momentos instigantes do que a noite. Lembro do Pellizzari e sua espera pela chuva, porque aqui tem chovido aos montes e com alta intensidade, muitas vezes volto para casa ensopado. Na sexta e no sábado da semana passada fez muito frio, sugestão de Europa e visitas a museus - o que foi muito bizarro. Quando o sol aparece, o bicho pega - tem que passar protetor solar mesmo.

Parece simples estar aqui, anotando uma coisa e outra, tomando um vinho, passeando, conversando amenidades. No fundo, não é.

Tem um jornal que, aos poucos, vem me conquistando, é o Australian, principalmente a edição de final de semana).

A história muda conforme vou conhecendo melhor a cidade. Tenho dúvidas quanto ao narrador - eu estava certo, mas agora não sei.

Pensei em viajar até Darwin, mas o tempo vai passando tão rápido (depois de fechar um mês aqui, passarei alguns dias na Nova Zelândia, à conta de aproximações acadêmicas, e, claro, pretendo usar a experiência de lá tambem).

Por vezes, a melhor coisa a fazer e parar na avenida, pegar o primeiro ônibus que estiver passando e entregar a observação ao acaso.

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DAVID ROWBOTHAM

Um dos sujeitos de valor que descobri nas visitas às livrarias da cidade foi o poeta David Rowbotham, meio marginalizado pela crítica australiana e que só recentemente (na velhice) vem recebendo a devida atenção.

Traduzi (com certa liberdade, aviso) um de seus poemas mais famosos, o "Permanent way".

PERMANENT WAY

O empregado atira sua marmiteira sobre a rocha gelada
para que a comida se conserve fria,
Metal forjado contra a natureza bruta,
Meio deformado por causa dos inúmeros impactos.

Entre a marmiteira e o paredão rochoso, há uma nascente,
Um riacho insignificante, e uma pequena árvore
Crescendo de cabeça para baixo no granito.

O empregado cisca uma pedras,
Afrouxando-as da luz do sol e da própria resistência mineral,
Enfiando-as sob os dormentes com a picareta:
Um meticuloso processo de reforço.

Ele pára ao me ver,
Seca o suor do nariz.
"Bom dia", ele diz.

"Até onde vai trabalhar nestes dormentes?"

"Até onde eu consiga ir hoje."

O trem apitou na curva distante.

Mais tarde, passei por ele de novo.
Estava sentado à sombra do paredão com a marmiteira ao lado
E abanou com a mão com que segurava o sanduíche.

Gostei daquele homem.
Havia humildade em seu jeito
e algum tipo de permanência.

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sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

FIM DE SEMANA

Há livrarias, mas não encontro livros de poesia.

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

ACABOU A FESTA

Agradeço a participação do Cláudio, da Marília, da Bárbara, do Marcelo e demais.

Dois acertaram: a Carol Bensimon e o Leonardo S.; estou em Sydney. Sabia que o Chardonnay seria uma pista escancarada demais.

Pronto. Começo a postar sem embromação e cortarei os comentários a partir do próximo post (o e-mail seguirá disponível).

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OLHA

Sem as mãos.

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NA PRAIA, ESPERANDO

A tarde reconstrói uma falta
E a decisão de prosseguir humanizado
Tramando a necessária alegria da alma
Com a velocidade das televisões

Enquanto algo me expulsa
Daquilo que deveria ser o mais aceitável
Perdido no hábito de ser monstruoso
Apenas por não admitir a faculdade de errar

Guardo em mim os divórcios
E o brilho de tantas inaugurações
Varejo agrupado em promessa de amizade
E uma solução para as manhãs inseguras

Algo a perder diante de tuas mãos ainda jovens
Talvez o assalto do sol escondido no vento da chuva
Talvez os degraus tomando paisagens
E a tua voz que é pouca e ainda me sopra o amor

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quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

AINDA

Façam as suas apostas.

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terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O QUE RESTOU DE DOMINGO

Descobri um bar onde se bebe vinho branco gelado em copo-martelinho. Descobri, ao acaso, um lugar onde se amontoam os brasileiros.

A história já está mais ou menos pronta na minha cabeça.

Os primeiros dias enchem o migrante (eu) de desarmonia e exílio, os sonhos são todos trágicos e completos de história pessoal.

Pretendo voltar com desenhos lunares que servirão para forrar as molduras que guardam minha coleção de desenhos do Guazzelli, do Jaca, do Fabio Zimbres.

Caminhei até a praia e vi os pais ensinando seus pequenos de cinco a sete anos a vencer as ondas. Cena linda, de verdade.

Hoje, acordei as oito e dez.

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RESPONDO

Lorena, não estou em Londres. Otávio, não estou em São Francisco. Antonio, não estou em Barcelona.

Agradeço a participação.

Em frente?

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segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

ALGO DE PAPAGAIADA, EMBORA O CONTRARIO

Querida amiga e leitora do "saduíche de anzóis" escreve e-mail, num tom crítico, para dizer que não sabe onde estou e que não vai pagar o mico de ficar adivinhando publicamente onde me escondi neste verão.

Então, garota, foi por isso que deixei a opção do e-mail, como já faço no outro blog.

Nisso me dei conta: não informei endereço.

Vamos no mais popular de todos: pscott@terra.com.br.

Agora, vou ali do outro lado do parque tomar um café.

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domingo, 13 de janeiro de 2008

IN A NATURAL WAY

Escolhi ficar no que se costuma chamar subúrbio (os apartamentos são mais baratos e fica mais fácil conhecer as pessoas, suas maneiras, ler jornal, tomar café demorado et cetera).

Dei um pulo rápido até a cidade, fui conferir as atrações principais e me livrar da curiosidade de conhecer as maravilhas locais (mundialmente badaladas). Cruzei turistas demais, com sua loucura demais, com suas máquinas digitais demais.

No final das contas, voltei algo satisfeito para o bairro. Dormi cedo (tenho acordado por volta das 6h, é a diferença de fuso, com certeza).

No geral, esta é uma cidade alegre, de gente simples e feliz. Isso é bom. Falta encontrar o melhor local para o inicio da história.

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sábado, 12 de janeiro de 2008

VINTE E QUATRO HORAS E TUDO BEM

Escrevo de algum lugar no planeta (primeira e única dica: a cidade não fica na América Latina).

Será a primeira vez que tratarei blog no formato clássico "esta é a sua vida", tentarei não ser banal.

Faltam acentos, falta descobrir internet barata.

Não me condenem por manter em segredo meu vínculo com o projeto (deveres contratuais são deveres contratuais).

Bem (isto não estava nos planos) oferecerei um exemplar do livro para o primeiro que descobrir onde estou. Duas chances por pessoa, ok?

Será esquisito ter um blog com comentários (quem preferir, mande e-mail).

Fiquem ligados.

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